O Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinge, em média, de 1% a 2% da população mundial, enquanto no cenário nacional, alcança aproximadamente dois milhões de brasileiros, segundo dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC).
“[O TEA] acomete, normalmente, mais meninos que meninas. Pode ser diferenciado por comportamentos e interesses estereotipados, atitudes atípicas e dificuldades na interação com outras pessoas, revelando ações dissociais, bem como hipersensibilidade a estímulos (ex: sonoridade)”, explica o psicólogo do Colégio PM – Santo André, Alex Cares Moura.
O transtorno do espectro autista possuí diferentes níveis, que vão do mais simples, que necessita de suporte básico, ao moderado, demandando assistência considerável, bem como casos mais severos, onde se faz necessário um apoio muito maior e complexo.
“Geralmente é possível encontrar na família do pai ou da mãe, ou até mesmo em ambas, características do espectro autista, desde um adulto extremamente fechado e sistemático, a crianças que pouco falam e pouco sociabilizam. São pessoas isoladas e retraídas, consideradas sistemáticas, difíceis ou com um certo grau de um pseudo retardo mental”, aponta o psiquiatra do Hospital Cruz Azul de São Paulo, Doutor Carlos Fernando Neumann.
Segundo Alex, com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), as estimativas de herdabilidade para o transtorno do TEA variaram de 37% a mais de 90%, com base nas taxas de concordância de gêmeos. Em um estudo mais recente de cinco países, estimou-se a herdabilidade em 80% dos casos.
“Atualmente, até 15% das situações de autismo parecem estar associados a uma mutação genética conhecida, com diferentes variantes de novo número de cópias ou alterações em genes específicos associados ao transtorno”, aponta o psicólogo da Unidade Santo André.
Entretanto, mesmo quando uma mutação genética está associada ao autismo, não será o fator predominante, desta forma, nem todos os indivíduos com a mesma anormalidade genética desenvolverão TEA. “O risco para a maioria dos casos parece ser herança poligênica (quando vários pares de genes interagem para determinar uma característica, cada um com efeito aditivo sobre o outro), com talvez centenas de locus genéticos fazendo contribuições relativamente pequenas”.
Os primeiros sintomas do transtorno do espectro autista frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, muitas vezes acompanhado pela falta de interesse social ou ações incomuns. Normalmente, a criança apresenta indiferença ao companheirismo e prefere brincar sozinha. Também revela padrões de comunicação incomuns, como conhecer o alfabeto, mas não responder quando chamada pelo nome. Além disso, as crianças podem apresentar comportamentos que podem parecer estranhos e repetitivos, por exemplo, realizar as mesmas atividades várias vezes, de forma que chega a ser incomum.
“Os sinais, geralmente, são mais perceptíveis na primeira infância e nos primeiros anos escolares, com mudanças significativas de desenvolvimento aparecendo no final período infantil, como um aumento pelo interesse social. Durante a adolescência, uma pequena parcela dos portadores de TEA piora no comportamento, enquanto a maioria melhora”, explica Alex Cares Moura, psicólogo do Colégio PM – Santo André.
O diagnóstico para o Transtorno do Espectro Autista é baseado no tipo, frequência e intensidade dos comportamentos.
“Normalmente, especialmente a mãe, já detectou que seu filho possuí TEA. A criança fala pouco, não brinca e prefere ficar sozinha. Muitas vezes da impressão de que não escuta, pois não responde ao ser chamada. Falamos de crianças excessivamente introvertidas, que choram muito, irritam-se com facilidade, sentem-se contrariadas com facilidade. O sono é muito agitado, despertam ou choram a noite toda, depois também não dormem nada de dia”, afirma o Doutor Carlos.
O tratamento para TEA possuí diversas linhas, a mais aplicada e conhecida é o método ABA, sigla para Análise do Comportamento Aplicada, que estuda os comportamentos humanos que são socialmente relevantes. De acordo com Alex, este método se mostra consideravelmente eficaz.
“A técnica cognitivo-comportamental ABA, integrada por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, fisioterapeutas e acompanhantes terapêuticos, havendo um arranjo dependendo do grau leve, moderado ou severo, oferece bons resultados. Psicanalistas experientes no atendimento de crianças e famílias também podem ser muito bons para tirar a criança do seu isolamento.”, reforça o Doutor Carlos Neumann.
Alex Cares Moura explica que os pais não devem forçar as interações sociais, pois isto pode gerar um efeito contrário. “Sabemos que no TEA, o indivíduo apresenta comportamento dissocial, caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, além da falta de empatia, o que pode gerar dificuldades na vida adulta. Porém, podemos estimular o autista a ter autonomia e promover interações saudáveis com o próximo, desde que os limites sejam respeitados”.
O psiquiatra do Hospital Cruz Azul de São Paulo declara que os pais muitas vezes se sentem culpados pelo cenário. “O entorno, até mesmo a própria família, atribui o transtorno a má educação. Em público, os pais são censurados pelos comportamentos atípicos dos seus filhos por parte de outros responsáveis. .
Em casa, a insistência nas rotinas e a aversão à mudança, bem como as sensibilidades sensoriais, podem interferir na alimentação, no sono e, até mesmo, nos cuidados pessoais, tornando a convivência extremamente difícil.
“Os pais e estas crianças precisam de apoio de profissionais da saúde, educação e do poder público. São pessoas especiais, muitas vezes com inteligência acima da média, com uma sensibilidade especial, ainda a ser melhor compreendida”, concluí o psiquiatra do Hospital Cruz Azul de São Paulo, Doutor Carlos Fernando Neumann.