ARRITMIA CARDÍACA
18 de julho de 2017
Cardiologista da Cruz Azul explica sobre os problemas da alteração dos batimentos do coração
Uma arritmia cardíaca acontece quando há um distúrbio na sequência de eventos elétricos no coração, como a taquicardia, quando a Frequência Cardíaca (FC) é maior do que 100 batimentos por minuto (bpm), e a bradicardia, em que a FC é inferior a 50-60bpm. Existem vários tipos de arritmias, dependendo também de onde se originam (átrio/ventrículo), da FC e se ocorrem como batimentos isolados ou repetitivos. Em outras situações, pode haver falha na origem (doença do “gerador”) ou propagação do impulso elétrico (bloqueios).
A função básica do coração é o bombeamento de sangue para circulação. Isso acontece pela entrada de sangue nos átrios direito e esquerdo, através das veias sistêmicas e pulmonares, respectivamente. Os átrios então se contraem e esvaziam seu conteúdo nos ventrículos que, após estarem repletos de sangue, contraem e, desta forma, bombeiam o sangue para a circulação sistêmica e pulmonar.
Para que a bomba do coração aconteça com ótimo desempenho, há a necessidade de sincronização da sequência que gera espontaneamente impulsos elétricos e os transmitem a todo o coração. Esse “gerador” elétrico, chamado nó sinusal, desencadeia um impulso que se dissipará por fios especiais ao átrio direito e esquerdo. A descarga “elétrica” em ambos os átrios gera uma contração harmônica e sincronizada que então bombeia o sangue aos ventrículos. Com isso, o impulso gerado nos átrios atinge os ventrículos por uma conexão “elétrica” diferenciada que retarda a sua condução e permite que os ventrículos contraiam apenas após estarem repletos de sangue proveniente da contração ou bombeamento atrial.
As arritmias podem ser assintomáticas e descobertas por acaso em consultas médicas de rotina ou durante investigação de outros problemas de saúde. Porém, alguns sintomas podem aparecer, como: palpitações aceleradas, pausas ou batidas fortes, tonturas, cansaço aos esforços e até mesmo desconforto no peito.
Algumas vezes, a síndrome do pânico pode levar a sintomas de arritmia ou, em contrapartida, a arritmia gerar/simular essa síndrome. A síncope ou desmaio pode representar uma arritmia mais grave e deve chamar a atenção do paciente quando precedida por uma importante aceleração do coração de forma brusca, ou seja, sem avisos chamados “desliga-liga”, por parecer com o desligar e ligar o interruptor de luz. A síncope pode ser decorrente de uma diminuição da pressão arterial sem riscos para o paciente. Por isso, a investigação cardiológica é importante para diferenciação.
Na maioria das vezes, as arritmias são diagnosticadas pelo registro em eletrocardiograma (ECG) que pode ser no exame convencional feito no consultório, Holter-24h ou teste ergométrico. O prognóstico geralmente é bom, ou seja, sem riscos. Entretanto, uma parcela menor dos pacientes pode apresentar as arritmias mais graves, que podem levar, em situações extremas, à morte súbita. Sumariamente, os grupos de risco potencial são os que apresentam arritmias com origem nos ventrículos associados a uma doença do músculo do coração, como o Infarto do Miocárdio e a Doença de Chagas.
Café, chás, bebidas alcoólicas ou estimulantes podem levar ao descompasso nos batimentos cardíacos, assim como o estresse ou as crises de ansiedade. Eliminar o fator desencadeador contribui para resolver ou amenizar o sintoma.
Sempre devemos investigar causas reversíveis, como as doenças da tireoide ou respiratórias para o distúrbio do ritmo cardíaco, já que seu controle pode eliminar algumas arritmias.
Nos pacientes sintomáticos, ou seja, nos que a arritmia provoca sintomas, é possível usar medicamentos para controle, sendo que o tratamento depende do tipo da doença e da gravidade dos sintomas ou do risco imposto na sobrevida. Para arritmias em que os batimentos do coração são lentos ou baixos, pode haver necessidade do uso de marcapasso definitivo. Já quando a medicação não controla, existe a possibilidade da remoção ou colocação do marcapasso.
Por fim, é importante salientar a Fibrilação Atrial, a arritmia mais frequente, que caracteriza-se por uma desorganização elétrica dos átrios que não conseguem contrair adequadamente e a passagem do sangue dos átrios para os ventrículos acontece passivamente (sem o componente gerado pelo bombeamento atrial). O maior problema no caso é o risco de AVC ou “derrame cerebral”, que pode ser prevenido pelo uso de anticoagulante oral, uma medicação usada para “afinar” o sangue. Nem todos têm este risco e, desta forma, precisam do anticoagulante.
Por Dr. Cristiano Dietrich
Cardiologista responsável pelo Serviço de Eletrofisiologia
da Cruz Azul de São Paulo