OVÁRIOS POLICÍSTICOS
29 de setembro de 2017
Ginecologista da Cruz Azul fala sobre o tratamento desta doença de difícil diagnóstico
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP ou DOCS) é uma desordem endocrinológica, multigênica, de difícil diagnóstico e que leva a uma disfunção ovariana, sendo caracterizada por apresentar elevação dos hormônios masculinos. Atinge 10% das mulheres em idade fértil, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), sendo necessários dois ou três sintomas/critérios combinados para fechar o diagnóstico da síndrome, de acordo com o consenso de 2003 de Roterdã.
Critérios diagnósticos
– Oligomenorréia (menstruação anormal com intervalo maior de 35 dias) ou anovulação (falta de ovulação).
– Sinais clínicos de hiperandrogenismo: como aumento de pelos na face e tronco, acne, queda de cabelo no couro cabeludo, aumento do volume abdominal, excluindo outras patologias que causem os mesmos sintomas.
– Ovários policísticos visualizados por Ultrassonografia padronizada, contendo: 12 ou mais folículos de 2 a 9 mm de diâmetro ou volume aumentado > 10 cm3 (sem a presença de corpo lúteo ou folículo dominante >10 mm).
Quais as causas da SOP?
Embora as causas ainda sejam desconhecidas, sabe-se que fatores multigênicos estão envolvidos e que a interação genética com fatores ambientais compõem esta síndrome. Hoje acredita-se que está relacionada à resistência periférica da insulina.
Quais os riscos da SOP?
Evolução da doença e dos sintomas para casos mais graves, tais como:
Infertilidade e abortamentos
Obesidade
Resistência à insulina
Intolerância à glicose
Diabetes mellitus
Alterações do perfil lipídico (colesterol alto)
Doenças cardiovasculares
Apneia obstrutiva do sono
Câncer do endométrio
Sintomas
Os sintomas clássicos são: falta da menstruação, irregularidade menstrual, aumento de pelos em face e tronco, obesidade, acne, oleosidade da pele, aumento da circunferência abdominal, alopecia e infertilidade.
Diagnóstico
– Considera-se os sintomas clínicos e a avaliação padronizada do ultrassom pélvico realizado no 1º ao 5º dia do ciclo menstrual natural ou induzido por progesteronas.
– Exames laboratoriais são importantes para descartar outras patologias de anovulação e hirsutismo.
– OBS: mulheres com ultrassonografia pélvica com ovários policísticos sem alterações da ovulação ou hiperandrogenismo não são portadoras da síndrome.
Tratamento
Irregularidade menstrual e anovulação
São recomendados os anticoncepcionais orais a base de estrogênio e progesterona, antiandrogênicos, progestágenos isolados, para a regularidade do ciclo e proteção da hiperplasia do endométrio.
A regularização do ciclo menstrual com uso de anticoncepcionais não indica cura da doença.
– Hirsutismo, acnes e manchas na pele
Além dos anticoncepcionais, os antiandrogênicos podem ser prescritos.
Nas acnes e manchas, pode-se indicar o uso de antibióticos associados a tratamentos estéticos, como cremes cosméticos e laserterapia.
O aumento dos pelos pode ser controlado com cremes depilatórios, eletrólise e laserterapia.
– Ganho de peso e aumento da circunferência abdominal
Estes sintomas são amenizados com exercícios físicos, dieta balanceada e hipoglicêmica.
O uso de hipoglicemiantes à base de Biguanidas e Tiazolidinedionas são recomendados, reduzindo a resistência da insulina e regularizando o ciclo menstrual.
Na perda de 5 a 10% do peso corporal, o ciclo menstrual pode ser normalizado.
Controle do Diabetes Mellitus e das alterações lipídicas.
Infertilidade
A primeira escolha de tratamento é a perda de peso.
Indutores podem desencadear a ovulação em 80% das mulheres com SOP e estas poderão gestar em 50% dos casos. Se associados a redutores da resistência à insulina, melhoram a taxa de nascimentos.
Caso não consigam engravidar, pode-se recorrer a terapias com gonadotrofinas, sendo aconselhada a procura de clínicas especializadas.
Prevenção
A prevenção consiste na detecção precoce da doença, além de monitorar e tratar os fatores de risco para os sintomas indesejados.
Uma equipe multiprofissional é sempre indicada para melhoria da qualidade de vida.
Desafio de diagnóstico
Na adolescência, o diagnóstico deve ser muito cauteloso, sendo obrigatório seguir os critérios descritos acima, com, pelo menos, dois anos após a menarca (primeira menstruação).
Nessa fase, as jovens podem apresentar alterações do ciclo menstrual, ovários multicísticos e acnes que são fisiológicos e transitórios após a menarca.
Por Dra. Isabel Cristina Berardinelli
Ginecologista e Obstetra da Cruz Azul, especialista em Ginecologia Endócrina
e Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI)