Brincando com polvos

4 de setembro de 2018

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Acolhimento de bebês prematuros conta com a ludicidade como parte do tratamento

Em mais uma iniciativa de humanização no atendimento, a Cruz Azul está promovendo o Projeto “Polvo” na Unidade de Terapia Infantil (UTI) Neonatal, visando propiciar a melhoria no desenvolvimento dos recém-nascidos (RN) prematuros ao transmitir sensações similares às do período de gestação, quando ainda estavam na barriga da mãe.

Simulando, em partes, o ambiente uterino, estes polvos transmitem mais segurança e acalmam as crianças, que ficam mais confortáveis na incubadora ao brincar com os tentáculos e apoiar na cabeça do brinquedo, como se fossem o cordão umbilical e a parede do útero, respectivamente.

O projeto nasceu na Dinamarca, em 2013, com o nome de “Octo”, tendo sido adaptado para atender às demandas dos neonatos atendidos no Complexo Hospitalar Cambuci, a exemplo de diversas equipes ao redor do mundo, as quais têm nos relatado suas observações também positivas.

Na Cruz Azul, cada bebê recebe seu próprio polvo, que é esterilizado  e doado para a mãe na alta médica. Com isso, o RN pode continuar se entretendo com o bichinho que o acompanhou durante a internação, já que não se trata de um simples brinquedo, mas sim uma parte importante do “tratamento”.

Embora ainda não existam pesquisas científicas publicadas sobre o assunto, os benefícios da ludicidade são inegáveis. É possível comprovar sua eficácia por meio do que chamamos de “estudo observacional”, demonstrando que tais estímulos estabilizam os batimentos cardíacos e a respiração do bebê prematuro, além de influir no ganho de peso e no aumento do nível de oxigênio no sangue, fatores que contribuem para a recuperação mais rápida.

Quando estão acolhidos pelos bichinhos, os pequenos ainda arrancam menos os fios de equipamentos de monitoração e a sonda de alimentação, o que é muito comum acontecer com bebês internados, aspectos esses que estão sendo analisados por nossa instituição.

Conforto e segurança

Confeccionados por voluntários da Organização Não Governamental (ONG) Prematuridade, os polvos são feitos de crochê com fio 100% algodão, seguindo um padrão de qualidade e tamanho para garantir a segurança dos bebês, os quais são frágeis e têm a pele muito sensível. Por exemplo, os tentáculos medem, no máximo, 22 cm quando esticados e os pontos devem ser bem apertados para que o enchimento não saia na lavagem.

Assepsia: esterilização e higienização

Para evitar os riscos de infecção e contaminação, os cuidados com a higiene são levados à risca pela equipe profissional, em conformidade com os protocolos clínicos, incluindo: lavar as mãos antes e depois de segurar o brinquedo, não pegá-lo à toa etc.

Saúde humanizada

Além do acolhimento lúdico com os polvos, a UTI Neonatal desenvolve diversas iniciativas bem-sucedidas que beneficiam os prematuros, tais como:

Projeto Canguru: o bebê fica em contato direto, pele a pele, com seu pai ou mãe, visando adequar sua temperatura corpórea, melhor ganho ponderal, menor risco de apneia e fortalecimento do vínculo familiar.

Visita de irmãos: com o acompanhamento do Setor de Psicologia Hospitalar, este encontro aproxima e prepara o irmão mais velho para a chegada, em casa, do recém-nascido que permaneceu hospitalizado, contribuindo para que o neonato ganhe mais peso e melhore sua imunidade.

Hora do soninho: as luzes são apagadas em três períodos (manhã, tarde e noite), ocasiões em que não são realizadas manipulações e outros procedimentos no RN estável, nem mesmo conversas e visitas entre os adultos, para assegurar momentos de descanso e tranquilidade aos bebês.


Por Dra. Gabriela Zuskin
Médica Neonatologista do Hospital Cruz Azul