O BEBÊ COMO O NÚCLEO DA FAMÍLIA
22 de novembro de 2016
Uma UTI Neonatal acolhedora e humanizada para o recém-nascido de risco e sua família
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal é, em geral, um ambiente repleto de equipamentos e rico em tecnologia. Para os pais, é um ambiente de esperança e, também, de medo. Esperança por saber que este é o lugar que melhor atenderá o seu filho e medo por saber dos riscos de uma internação em UTI, além de não estarem preparados para a “separação” do bebê hospitalizado.
Não há dúvidas de que a evolução da tecnologia modificou o prognóstico e a sobrevida dos bebês de alto risco. No entanto, a fragilidade da pele, a necessidade de manipulações e procedimentos e a presença de tubos e sondas são causas de sofrimento, visto que os mesmos não estão preparados para tantos estímulos que lhes são estranhos e assustadores, considerando que antes viviam em um ambiente protegido pelo líquido amniótico, ouviam os batimentos cardíacos da sua mãe e o som da voz dela.
A UTI se mostra um ambiente barulhento, com luz forte durante quase todos os períodos e com grande movimentação de pessoas (médicos, enfermeiros, técnicos de exames laboratoriais e de imagem, profissionais da farmácia, segurança, limpeza, entre outros). Apesar desse cenário, os profissionais têm se empenhado em prestar uma assistência mais humanizada.
No ambiente hospitalar, a humanização representa um conjunto de iniciativas que visa à produção de cuidados em saúde capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento e respeito ético e cultural ao paciente e à sua família.
O cuidado com o recém-nascido (RN) de alto risco é bastante complexo e, na maioria das vezes, bastante sofrido para o pequeno paciente e os familiares. São muitos exames, medicamentos, procedimentos. Pensando nisso, a equipe de Neonatologia do Hospital Cruz Azul vem trabalhando novos projetos e rotinas pra deixar a Unidade mais acolhedora nos cuidados intensivos.
Um dos projetos de humanização é a Visita dos Irmãos na UTI Neonatal, que acontece uma vez por semana, com acompanhamento do Setor de Psicologia Hospitalar. Esse encontro tem duração de 30 minutos e visa aproximar e preparar o irmão mais velho para a chegada, em casa, do recém-nascido que permaneceu hospitalizado. Além disso, um ambiente de carinho, acolhedor, com a presença de sua família, acaba deixando o neonato mais tranquilo, fazendo-o ganhar peso mais rápido e melhorando sua imunidade.
Esse momento em família é muito especial e de grande importância para o fortalecimento do vinculo afetivo. Para isso, há necessidade de tomarmos alguns cuidados. A família é entrevistada num primeiro momento a fim de se orientarem sobre regras básicas para que não haja problemas para nenhuma das crianças. Somente irmãos com mais de quatro anos poderão entrar no programa. Além disso, no dia da visita, é feito um questionário da saúde do pequeno visitante, bem como a verificação da vacinação, para que possamos resguardar a saúde de ambos. As visitas são monitorizadas pela Psicologia que, normalmente, percebe um resultado muito positivo.
Existem diversas outras medidas em curso para promover a humanização no atendimento, tais como:
a concentração de exames e manipulações num mesmo horário, para que o recém-nascido tenha períodos de descanso;
a “hora do soninho”, onde as luzes da unidade são apagadas em três períodos (manhã, tarde e noite), não há manipulações no RN estável, nem mesmo conversas e visitas para garantir momentos de tranquilidade;
a realização da “posição canguru”, em que o bebê permanece em contato direto (pele a pele) com seu pai/mãe, visando à adequação da temperatura corpórea do recém-nascido, melhor ganho ponderal, menor risco de apneia e fortalecimento do vínculo familiar.
O contato íntimo dos pais com o bebê e o apego dos mesmos exerce profundos efeitos no futuro crescimento e desenvolvimento do filho. Esse apego não pode ser visto somente como manifestação simples e rápida, mas como o início de um processo de experiências com o neonato bastante complexo.
É importante ressaltar que a recuperação do bebê não depende unicamente dos cuidados médicos e de enfermagem, mas também dos cuidados e do carinho que possam vir a receber de seus pais.
Um ponto importante a ser considerado no tratamento do RN de risco é reduzir a ansiedade dos familiares, oferecendo apoio para ajudá-los na expressão de seus sentimentos. Se o pai ou a mãe experimenta um relacionamento positivo com um profissional no Hospital, seu nível de ansiedade diminui e sua percepção da situação torna-se menos difícil.
Por Dra. Gabriela Zuskin e Dra. Tatiana Hirooka
Médicas Neonatologistas do Hospital Cruz Azul